quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

O QUE É INICIAÇÃO A VIDA CRISTÃ? (IVC)

A medida, em que, afirmamos ser a Iniciação a Vida Cristã e a transmissão da fé às novas gerações, um dos principais desafios do nosso tempo, se faz necessário situá-la no conjunto da ação evangelizadora da Igreja. Para melhor compreender, interessa-nos, explicar a diferença e a aproximação dos termos catequese e iniciação a vida cristã.  
Ao longo da história da evangelização se reduziu todo o processo de iniciação à vida cristã a simples catequese, concebida como mera transmissão de conteúdos, alheia ao processo mais amplo e integrado de amadurecimento da fé. Por muito tempo o itinerário (processo) de iniciação a vida cristã foi reduzido ao segundo momento, à catequese praticada como ensino-doutrinação, perdendo a prática mistagógica e processual da iniciação a vida cristã.
Essa prática a ser superada, se afirmou no passado pelo fato de que o estar imerso no contexto cultural e religioso da época já garantia o primeiro anuncio e boa parte da iniciação religiosa. Hoje diante do pluralismo religioso, corremos o sério risco de catequizar sem iniciar as gerações na fé e vida cristã. A Conferência de Aparecida afirma: ou educamos na fé, colocando as pessoas em contato com Jesus e convidando-as para seu seguimento ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora. Impõe se para o hoje, a tarefa irrenunciável de oferecer uma modalidade de iniciação cristã, que além de marcar o que, também ofereça elementos, para quem, o como e o onde se realizam (DAp, 287).
Por isso, se entende por Iniciação a Vida Cristã, o processo pelo qual alguém é incorporado ao mistério de Cristo Jesus. Portanto, não se reduz a catequese. A catequese é apenas uma parte do processo pelo qual alguém é iniciado na vida cristã. Trata-se de percorrer um caminho para se chegar à realidade da incorporação em Cristo como experiência existencial, realizado e celebrado sacramentalmente.  Para os batizados a iniciação a vida cristã visa plantar e fazer germinar os germes da fé. Para o não batizado, é processo que leva ao mergulho no mistério de Cristo. Nesta realidade podemos falar de iniciação a vida cristã e também de reiniciacão à vida cristã.
A catequese se situa como parte do vasto e complexo processo de iniciação da vida cristã. É o período mais longo da caminhada, onde são colocados os fundamentos do edifício da vida cristã que se elevará. (DGC) nº 64,65,130. Os conteúdos tem sua importância desde que integrados ao processo mais amplo do seguimento de Jesus. No centro da iniciação cristã está uma Pessoa (Jesus) e não uma doutrina. O DGC diz: “a catequese é educação sistemática e progressiva da fé, aliada a um processo continuo de amadurecimento da própria fé” (Nº 67 e 69). Aqui a catequese assume caráter de serviço em favor de um itinerário maior de iniciação a vida cristã.
Se a catequese é o ato de fazer “eco”, fazer “ecoar”, isso supõe, que ela vem depois ter havido um som, uma voz previa, que já tenha sido anunciada. Corre-se o risco nos dias de hoje de uma catequese que não seja precedida de ação querigmática, dai ser necessária que ambas aconteçam simultaneamente: o anuncio no contexto da catequese e a catequese que seja ela querigmática.  Ao longo da experiência de vida cristã é importante a formação permanente. Teologicamente podemos dizer que a pessoa está iniciada com celebração do sacramento, contudo, se faz necessário o aprofundamento permanente para amadurecer sempre a fé cristã.

Em meio às aproximações e diferenciações, onde fica o catecumenato? Qual sua relação com iniciação à vida cristã? O catecumenato foi à instituição iniciática dos adultos nos primeiros séculos do cristianismo (primeiras comunidades) com finalidade de preparar os convertidos ao mistério de Cristo e para a vida em comunidade. De caráter “catequético-litúrgico-moral, constituídos por etapas, com momento culminante na celebração dos três sacramentos de iniciação a vida cristã presidida pelo bispo na Vigília Pascal”. O catecumenato se tornou o processo de transmissão mais eficaz da história da Igreja. É na atualidade a grande redescoberta da Igreja, no contexto da secularização, para a missão de transmissão da fé e iniciação na vida cristã. A iniciação a vida cristã aponta para “o que” enquanto o catecumenato nos fala do “como”, da iniciação a vida cristã.

INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ E A MISSÃO DA COMUNIDADE

Para assumir é necessário conhecer. A comunidade eclesial é por excelência o lugar da iniciação à vida cristã.  Não nos tornamos cristãos sozinhos. Não podemos ser cristãos no isolamento e solidão. A iniciação se dá pelo encontro da Igreja (comunidade) com o iniciado e deste com a Igreja. A comunidade de fé há de ser sempre a origem, o lugar e a meta da iniciação a vida cristã. A iniciação atinge seu auge através de dois passos inseparáveis entre si: o pessoal e o comunitário. A dimensão pessoal exige a livre adesão à iniciativa divina, enquanto a dimensão comunitária lembra que a resposta ao chamado divino se dá no espaço da comunidade eclesial. A iniciação cristã tem por objetivo o mergulho sacramental-ontológico e existencial da pessoa no Mistério Pascal. Esse mergulho envolve a dimensão pessoal e comunitária da existência da pessoa. A pessoa deve assumir os sacramentos da iniciação cristã associada ao sacramento da Igreja. A comunidade é caminho para romper o individualismo religioso e sacramental, frutos da concepção individualista de salvação. A Iniciação na fé e na vida comunitária é inseparável e ao mesmo tempo único processo evangelizador.
A iniciação a vida cristã vai transmitir a fé cristã e atrair para a vida comunitária. O instruir e atrair não são tarefas distintas. A iniciação a vida cristã só vai gerar novos filhos com o envolvimento e responsabilidade de toda a comunidade. A comunidade eclesial neste processo é chamada para assumir sua vocação maternal de gerar e alimentar os novos filhos na fé. A iniciação a vida cristã se necessitam mutuamente para alcançar a maturidade da fé. Essa maturidade se busca através de um gradual itinerário formativo. O processo da iniciação à vida cristã é marcado por tempos e etapas sucessivas. Há tempo para descobrir, tempo para responder, tempo para maturação, tempo para aprofundamento e tempo para saborear aquilo no qual se foi tornado (não nascemos cristãos nos tornamos). Em todos os tempos se exige a participação ativa de toda a comunidade.
O catecumenato é eclesial, assim como a Igreja é catecúmena. Trata-se de um movimento estrutural: “o catecumenato é um caminhar da comunidade junto com o catecúmeno e deste com a comunidade”. A importância da comunidade no processo catecumenal está no fato de sua eficácia depender de comunidades vivas e dinâmicas que suscite o desejo de participar de sua vida. Sem comunidade vivas e atrativas, torna-se impossível o crescimento da fé. A entrada de novos catecúmenos na comunidade a enriquece e a tona dinâmica e atrativa. A comunidade se renova e se reinicia cada vez que gera, acolhe e acompanha em seu seio novos filhos. A comunidade é por isso, agente e destinatária da iniciação cristã. A catequese conduz a maturação na fé não apenas os catequizandos, mas também toda a comunidade.
O catecúmeno não é apenas aquele que recebe a formação e a comunidade não é apenas a que oferece. Ambos, comunidade e catecumenato, se enriquecem mutuamente no constante processo de iniciação a vida cristã. Os catecúmenos precisam do apoio da comunidade de fé, assim como a comunidade necessita da presença dos catecúmenos para renovar-se continuamente. Toda a comunidade é catecumenal e catecúmena ao mesmo tempo.
A iniciação a vida cristã só tem razão de ser por causa da comunidade. A comunidade só adquire sentido antropológico-existencial e teológico-social e religioso, se nela houver processo de iniciação a vida cristã. Ambas se dependem mutuamente na formação e iniciação da vida espiritual e de fé dos cristãos. O clamor e: iniciação a vida cristã para se ter vida de comunidade e comunidade para ser iniciado na vida cristã. 
Pe. Moacir da S. Caetano



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