DIOCESE DE CAÇADOR
MITRA DIOCESANA
Mensagem de Dom Frei
Severino Clasen para a Abertura da Campanha da Fraternidade – 2015
Eu vim para Servir (Mc 10-45)
A ação Evangelizadora da
Igreja no Brasil é anunciar o Reino de Deus e sua justiça. Todos os anos, no
período da quaresma, portanto, durante os quarenta dias de preparação para a
Páscoa do Senhor, a Igreja Católica se debruça sobre uma temática referente a
uma problemática da sociedade, espaço sagrado onde a Igreja tem a missão de
anunciar a justiça de Deus a partir do Evangelho de Jesus Cristo.
Nesse ano, comemorando os 50
anos da realização do Concilio Ecumênico Vaticano II, a Igreja quer avaliar sua caminhada conforme as decisões do
Concílio Ecumênico.
A temática para a Campanha da
Fraternidade desse ano - Fraternidade: Igreja e Sociedade,
com o Lema: Eu vim para servir (Mc 10,45), é inspiradora para comemorar o
cinquentenário do Concílio.
Três palavras motoras para uma
revisão de vida pessoal, familiar, social e eclesial: FRATERNIDADE; IGREJA E SOCIEDADE.
Qual é a missão da Igreja e da
sociedade para recuperar a dimensão fraterna?
Todos os dias surgem notícias
sobre corrupções e de grande quilate. Há um mar de corrupções espalhado nesse
imenso Brasil. Ouvimos falar de corrupção em quase todos os municípios e
estados de nosso país. E as obras superfaturadas para a Copa do mundo, a
sociedade permanece calada? Quem vai verificar? E as Olimpíadas para o próximo
ano? Quem vai fiscalizar? Cresce o corrupto e o corruptor. O pecado social se
institucionaliza cada vez mais.
Na Igreja, o Papa Francisco
pede coerência, engajamento, testemunho de vida segundo o Evangelho e a Igreja
precisa ser leve, autêntica, fraterna, acolhedora, simples, despojada, profética,
engajada na sociedade e menos burocrática e pesada na sua estrutura que impede
denunciar o pecado e anunciar a Paz.
Qual é o papel da Igreja?
A Igreja Católica apostólica
Romana, alicerçada nos ensinamento de Jesus Cristo e transmitida pela tradição
apostólica, pela Sagrada Escritura e pelo Magistério da Igreja, quer continuar
anunciando o Reino de Deus e sua Justiça, matéria essencial da pregação de
Jesus Cristo que O levou ao martírio de cruz em vista do anúncio da justiça, da
paz e do amor.
Através da fé, todos os fiéis
batizados são convocados a testemunhar com gestos concretos o Reino de Deus
hoje em nossas cidades, vilas e rincões onde vivemos, nos movemos e existimos.
Queremos uma vida fraterna,
tanto na Igreja quanto na sociedade. Chega de violência, mortes estúpidas e
corrupções. Para vivenciar o gozo da fraternidade, ação vital para o convívio
da humanidade, é preciso avaliar nessa quaresma, o que estamos fazendo, o que
pensamos e como agimos para que a fraternidade aconteça na Igreja e na
sociedade.
Gesto Concreto
O papa Francisco vem solicitando
uma maior abertura da Igreja em todo o mundo. Ele fala de Igreja de saída na
sua última encíclica. A nossa Igreja solidificou uma atitude para dentro de si
mesma, construiu grandes catedrais, belíssimas estruturas arquitetônicas,
revelando um progresso na arte e na arquitetura, grande beleza e riqueza para a
humanidade. Com isso, a dimensão sacramental se tornou quase a única fonte de
salvação proposta para seus fieis. Continua sendo uma riqueza que não podemos e
nem devemos subestimar ou ignorar. É preciso dar vida aos sacramentos. Para
tanto é preciso uma nova fonte de cultura e de atitudes cristãs. A dimensão
profética nos enriquece e complementa a beleza da mística e espiritualidade que
os sacramentos nos oferecem. Por isso é preciso recuperar a riqueza maior que é
o próprio ser humano. Olhar para a sensibilidade da vida e resgatar o ser
humano, devolver à humanidade a sua dignidade e respeito total. Colocar a
pessoa em primeiro lugar. O econômico deve ser um meio para dignificar o ser
humano e não o ser humano a serviço do econômico. A moral e a ética devem ser a
conduta de toda a sociedade e a Igreja tem muito, ou tudo para contribuir à sociedade,
abandonando o moralismo infértil e farisaico. A atitude fundamentalista e ingênua
contribui para a violência, a corrupção e a destruição da dignidade humana.
Dois gestos para uma quaresma
fecunda e mística em vista da Páscoa que se aproxima:
a)
Mistagógica:
estudar, rezar, avaliar, celebrar a vida pessoal, familiar, comunitária e
social.
A partir da
Sagrada Escritura e das orientações da Igreja particular, reunir os grupos, as
comunidades para a oração, meditação, confissão e revisão de vida cristã. Onde
estamos pecando para resultar em tanta corrupção e violência na sociedade hoje?
Algo está errado na nossa prática religiosa.
b)
Engajamento
social: gesto concreto para mudar a ação politica no Brasil. Grande
campanha de assinaturas exigindo a reforma política no Brasil. À sociedade brasileira
deve se unir e fazer sua parte. Estamos nos acostumando a ver as notícias, nos
indignarmos contra tanta sujeira e não nos movemos para mudar. Somos cúmplices
do pecado social instalado. A Igreja do Brasil vem há muito tempo se
esforçando, debatendo, dialogando e cobrando justiça. O povo precisa
participar. Do contrário, vamos para a destruição total.
Peço que em cada paróquia da nossa Diocese
se mobilize para que durante a quaresma se recolha assinaturas para cobrar
ampla, total e profunda reforma política no Brasil. Precisamos entregar ao
Congresso Nacional 1.500.000 assinaturas para exigir dos nossos representantes
legais a mudança política. Com isso, teremos ferramentas para acabar com as
corrupções institucionalizadas em nossos municípios, estados e país.
Que a força da mensagem
quaresmal nos sensibilize e e nos leve a não ficarmos trancados em nós mesmos esperando que outros
façam. Pela graça do Batismo somos chamados a transformar o mundo do pecado em
mundo da graça e da fraternidade. Eis o sonho, o desejo, a necessidade de se
converter e se preparar para a Páscoa. Que não deixemos o Cristo mais uma vez
sozinho, sofrendo todo suplício e nós assistindo sua dor cruel e até negando
que somos cristãos.
Que a força do Espírito Santo
nos ilumine e nos encha de coragem para uma ação transformadora e de conversão.
Uma Santa e fecunda quaresma!
Dom Frei Severino Clasen
Bispo da Diocese de Caçador