NATAL:
DEUS QUER UM LUGAR ENTRE NÓS
“Enquanto
estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho
primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar
para eles na hospedaria” (Lc 2,6-7).
As festas natalinas colocam diante de
nossos olhos essa página, descrita com detalhes, do evangelista Lucas. O
acontecimento íntimo do nascimento de Jesus não cessa de tocar o nosso coração
por sua beleza e simplicidade. Não cessa de nos tocar o fato de que Deus – infinitamente santo,
onipotente, onisciente, com todos os seus atributos – tenha se feito uma frágil
criança, sujeita a todos os imprevistos daquela noite. Esse fato revela a
grande confiança de Deus no ser humano. É como se Ele dissesse a cada um de
nós: “Sei que minha grandeza pode te assustar, por isso venho a ti como criança
e desejo de ti apenas duas coisas: cuidado e amor”.
Um detalhe, dito quase que
de passagem por S. Lucas, deve tocar nosso coração, particularmente nesse tempo
em que o coração das pessoas está mais aberto à solidariedade: “não havia lugar
para eles na hospedaria”. A Palavra nos interpela a olhar o mundo, sobretudo os
mais próximos, para ver quantos ainda estão sem lugar. Qual o nosso comportamento
diante dos imigrantes, estrangeiros, refugiados, sem terra, sem teto, pobres e
abandonados? A peregrinação da família de Nazaré à procura de abrigo continua
através da história por meio de todos os “sem lugar”. Vejamos um exemplo disso:
os noticiários reportaram nos últimos dias, que a neve no Oriente Médio
produziu paisagens de rara beleza. Mas esqueceram de comentar que a mesma neve
que produziu o espetáculo maravilhoso, veio a revelar o drama dos refugiados
sírios que já pagam um alto preço pela guerra civil no país, sofrem agora com o
frio nos campos de refugiados, onde dormem em barracas. “Não havia lugar para
eles na hospedaria”. O natal traz o duplo convite: contemplar e agir.
Contemplar a encarnação de Deus e agir para que o mundo seja sempre um lugar
melhor para acolhê-lo em todas as suas criatura, principalmente nas crianças.
Nas crianças – mesmo nos embriões – brilha a luz do menino de Belém.
O drama do casal que se vê
obrigado a procurar abrigo na estrebaria foi aprofundado nas misteriosas
palavras do prólogo do Evangelho de João: “Veio para o que era Seu, e os Seus
não O acolheram” (Jo 1, 11). Além da dimensão social, devemos nos perguntar: estamos
verdadeiramente abertos para acolher Deus? Ao fazer-se um de nós, ele quer
hospedar-se para sempre com a humanidade. Quer partilhar de tudo o que diz
respeito ao ser humano: as alegrias e as esperanças, as tristezas e as
angústias, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem (GS 1). Mas como
naquela noite em Belém, o mundo de hoje, parece não ter lugar. As coisas de
Deus parecem nunca ser urgentes, sua presença é até considerada um incômodo. As
pessoas andam pelas ruas tão cheias de si mesmas, ocupadas em aproveitar bem o
tempo de compras e festas que Deus continua sendo mandado para a estrebaria, lugar
afastado, longe da vista de todos.
O grande desafio das festas natalinas é abrir
espaço para que Deus faça morada entre nós, que ele venha para o centro de
nossas vidas e, sobretudo, para o centro da festa. Que todos possamos rever a
vida á luz do extraordinário acontecimento do Natal: Deus quer entrar em nossa
história. Feliz natal a todos!
Diácono Everaldo Antonio