Interação
entre Liturgia e Catequese: uma aproximação necessária
Edson De Bortoli[1]
Ao se fazer uma
avaliação da realidade pastoral presente, percebe-se que, infelizmente, ainda
insiste-se em manter, em lado opostos, a catequese, com tarefa estrita de
doutrinação, e a liturgia, unicamente vista como ato de culto. Enquanto a
primeira se limita na preocupação com os aspectos pedagógicos, a segunda se
detém nos aspectos celebrativos. As duas permanecem sem unidade de fundo. A
distância entre elas aparece como uma das principais causas da não continuação
da vida comunitária eclesial das pessoas após sua recepção dos sacramentos.
Deste modo, um dos grandes desafios do processo de iniciação à vida cristã
consiste em romper a grande muralha que há entre a catequese e a liturgia. Se
catequese significa fazer ressoar a mensagem, é importante que ela seja um
lugar para o indivíduo tornar-se ouvinte da Palavra, isto é, que ela seja
marcada pela densidade litúrgica e celebrativa. (Cf. REINERT, 2015, p.86-87).
Como afirma Reinert (2015, p.87), “investir em uma iniciação cristã
litúrgico-sacramental que relacione anúncio, formação, celebração e vivência da
fé é um caminho necessário para superar uma compreensão catequética concebida
unicamente como doutrina, e a liturgia como apêndice à educação da fé”.
A liturgia é dotada de
forte teor catequético, enquanto a catequese conduz e educa para a vida
litúrgica. Como lembra o Diretório Nacional de Catequese: “a liturgia é fonte
inesgotável da catequese, não só pela riqueza de seu conteúdo, mas pela sua
natureza de síntese e cume da vida cristã: enquanto celebração ela é ao mesmo
tempo anúncio e vivência dos mistérios salvíficos; contém, em forma expressiva
e unitária, a globalidade da mensagem cristã. Por isso ela é considerada lugar
privilegiado de educação da fé.” (DNC, 118).
Conforme a Constituição
Sacrosanctum Concilium, “a Liturgia é
o cimo para o qual se dirige a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte donde
emana toda a sua força” (SC, 10). Se esta afirmação for aceita como verdadeira
e para a caminhada pastoral, então um processo catequético que não se aproxima
da vida litúrgica perde sua razão de ser, além de fazer com que os sacramentos
se transformem em simples ritualismos individualistas, sem nenhum sentido real
para aquele que os recebe. (Cf. REINERT, p.87).
A proposta da
metodologia catecumenal considera a iniciação á vida cristã como uma intensa
celebração, intercalada por momentos celebrativos e rituais, que tem seu ápice
na recepção dos sacramentos da iniciação à vida cristã, na noite da Vigília
Pascal. Isso evidencia o potencial catequético da liturgia, que é um caminho
que conduz o catecúmeno na linguagem dos símbolos e ritos litúrgicos. Por isso,
ambas são importantes, pois se ajudam mutuamente na missão de introduzir o
catecúmeno no Mistério Pascal. (Cf. REINERT, 2015, p.88).
A vivência de uma autêntica
espiritualidade litúrgica é um modo de se viver constantemente a graça
sacramental da iniciação cristã, renovada em cada celebração eucarística e
celebrada o longo do ano litúrgico. Gera uma forma própria de ser cristão
inserido no mundo, pois ela vai aos poucos forjando uma identidade cristã.
Portanto, ela possibilita ao batizado a vivência de um contínuo estado de
iniciação à fé. (Cf. LELO, 2005, p.129-131).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CONCÍLIO VATICANO II, 1962-1965,
Vaticano. Constituição Sacrosanctum Concilium.
In: COSTA, L. (Org.). Documentos do
Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965). 1.ed. São Paulo: Paulus, 1997,
p.33-86.
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO
BRASIL. Diretório Nacional de Catequese.
Brasília: Edições CNBB, 2006.
LELO, A. F. A iniciação cristã: catecumenato, dinâmica sacramental e
testemunho. São Paulo: Paulinas, 2005. (Coleção água e espírito).
REINERT, J. F. Paróquia e iniciação cristã: a interdependência entre renovação
paroquial e mistagogia catecumenal. São Paulo: Paulus, 2015. (Coleção
catequese).