CATEQUESE EVANGELIZADORA PARA OS
DIAS DE HOJE
1. Mudança
de época: principais desafios para a catequese e a evangelização hoje
Vivemos
uma mudança de época. Este período nos
traz novos critérios para o julgamento da existência, fazendo com que o que
antes era certeza, mostre-se insuficiente para responder a situações novas,
deixando as pessoas desnorteadas. Tal mudança epocal tem impactos sobre a
realidade, impondo novos desafios para a catequese.
a. Individualismo
O
eu é colocado como centro da
realidade na qual se vive e como parâmetro único e absoluto de referência e de
avaliação. Não se busca mais o bem comum, mas cada um pensa em atingir o
próprio bem. Neste panorama é difícil individuar os parâmetros de referência.
Somente tem valor as coisas ou pessoas pelas quais se tem um interesse
individualmente.
O
individualismo penetra até em certos ambientes religiosos, onde se busca a
própria satisfação, deixando de lado o amor de Deus e o serviço ao outro.
Oportunistas manipulam o Evangelho, voltando-o para benefícios particulares.
b.
Hedonismo
O
prazer é colocado como critério último de todas as relações humanas. O prazer
(que com certeza é um valor) deve ser alcançado sem fadigas e sem esforços,
onde sua busca torna a cada pessoa a norma de si mesma.
c. Indiferentismo
Nesta
situação, nada tem importância. Verifica-se uma perda pelo “sentido da vida”.
Consequência
da perda pelo sentido da vida é a “perda de Deus”. Entretanto, paralelamente
ocorre um movimento de “retorno ao sagrado”. Este, por sua vez, associa-se ao
fenômeno do “trânsito religioso”, onde as pessoas migram constantemente de uma
experiência religiosa para outra, buscando respostas imediatas aos seus
problemas. Já não é mais a pessoa que se coloca como servo atento de Deus, e
sim ocorre a ilusão de que Deus possa estar a serviço das pessoas.
d.
Cultura midiática
As
relações ultrapassam as distâncias de espaço e de tempo: forma-se a aldeia
global.
Na
situação atual, a troca de notícias e informações tem grande importância no
processo de constituição da pessoa. Entretanto, seu excesso cria o perigo de
perder-se a sensibilidade diante de episódios de injustiça. Também oportuniza a
vivência de novas fantasias, por meio de uma realidade virtual que permite ao
indivíduo viver como se estivesse imerso nesta realidade.
Assim,
esfacelam-se as comunidades humanas dos moldes como eram conhecidas. A cultura
midiática elimina do ser humano o espaço e o tempo, tirando dele o que este
tinha por sua individualidade e identidade.
2. Mudança
de época: a necessidade de um novo paradigma catequético e evangelizador
O
contexto acima citado faz com que os ensinamentos da Igreja já não encontrem
tanta acolhida no interior das pessoas. A voz da Igreja não encontra resposta
favorável no coração da humanidade. E a palavra de Deus que essa voz anuncia
acaba não tendo lugar para se aninhar.
Diante
deste novo panorama, como a catequese pode ser situada? Qual é o seu papel? Ela
consegue ser evangelizadora?
A
mudança de época e os novos desafios pastorais apresentados à comunidade
eclesial exigem uma revisão global e corajosa de todo o agir pastoral
catequético. Essa revisão invoca a relação entre catequese e o processo de
evangelização. A evangelização torna-se uma realidade que qualifica e catalisa
toda uma nova obra sistemática de catequese.
3. A
nova evangelização para a transmissão da fé (Cf. EG, n.14)
A
nova evangelização interpela a todos, realizando-se fundamentalmente em três
âmbitos:
a.
No
âmbito da pastoral ordinária:
contempla os que frequentam regularmente a comunidade, e os que conservam uma
fé católica sincera e intensa, embora não participem frequentemente do culto.
Esta pastoral está orientada para o crescimento dos crentes, a fim de
corresponderem melhor e com toda a sua vida ao amor de Deus.
b. No âmbito das pessoas batizadas que, porém, não vivem as exigências do
Batismo, não sentem uma pertença cordial à Igreja e já não experimentam a consolação
da fé. A Igreja esforça-se para que elas vivam uma conversão que lhes restitua
a alegria da fé e o desejo de se comprometerem com o Evangelho.
c.
No
âmbito da proclamação do Evangelho às
pessoas que não conhecem Jesus Cristo ou que sempre O recusaram. Todos têm
o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm o dever de anuncia-lo, sem
excluir ninguém, e não como quem impõem uma nova obrigação, mas como quem
partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete
apetecível. A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração.
4. Ao
redor da palavra
Na
variedade das expressões, podemos falar de um consenso na Igreja atual,
enquanto individua a identidade da catequese em torno de três polos de
referência: a Palavra de Deus, a fé e a Igreja. A pedagogia catequética deve estar fundamentada na Palavra
de Deus que alimenta a fé e as consequentes atitudes de fé de toda a comunidade
eclesial.
De
acordo com o Papa Francisco, “toda a
evangelização está fundada sobre esta Palavra escutada, meditada, vivida,
celebrada e testemunhada. A Sagrada Escritura é fonte da evangelização. Por
isso, é preciso formar-se continuamente na escuta da Palavra. A Igreja não
evangeliza se não se deixa continuamente evangelizar. É indispensável que a
Palavra de Deus se torne cada vez mais o coração de toda a atividade eclesial.
A Palavra de Deus ouvida e celebrada, sobretudo na Eucaristia, alimenta e
reforça interiormente os cristãos e torna-os capazes de um autêntico testemunho
evangélico na vida diária.” (EG, n.174)
A
atividade catequética é ministério da Palavra, serviço à evangelização,
comunicação da mensagem cristã e anúncio da Boa Nova festiva de Cristo. Por
isso nos diz o papa que: “é fundamental
que a Palavra revelada fecunde radicalmente a catequese e todos os esforços
para transmitir a fé. A evangelização requer a familiaridade com a Palavra de
Deus, e isso exige que as dioceses, paróquias e todos os grupos católicos
proponham um estudo sério e perseverante da Bíblia e promovam igualmente a sua
leitura orante e comunitária. [...] Acolhamos o tesouro da Palavra revelada.”
(EG, n.175)
A
catequese é momento de iniciação à vida cristã e de educação da vida cristã
iniciada, mediação eclesial que favorece o amadurecimento da fé nas pessoas
através das comunidades eclesiais para o serviço ao mundo. Por isso a catequese
é ação e momento essencial da missão da Igreja.
Sendo
assim compreendida, podemos chamar de atividade catequética toda forma de serviço eclesial à Palavra de
Deus dirigida ao amadurecimento pessoal da vida cristã mediante e dentro da
comunidade eclesial.
5. Uma
catequese querigmática e mistagógica
A
catequese é sempre uma forma de evangelização (DGC, n.59). É um momento
essencial no dinamismo evangelizador. Ela é anúncio e aprofundamento
da mensagem evangélica para o amadurecimento da vida cristã, encontrando-se no
centro da missão eclesial como instrumento da existência da Igreja como
Sacramento do Reino de Deus para a sociedade. A noção de catequese como anúncio
e aprofundamento norteia duas características evidenciadas pelo Francisco: a
catequese querigmática e a catequese
mistagógica.
a. Catequese
Querigmática
(Cf. EG, n. 164-165)
Voltamos
a descobrir que também na catequese tem um papel fundamental o primeiro anúncio
ou querigma, que deve ocupar o centro
da atividade evangelizadora e de toda a tentativa de renovação eclesial. Na
boca do catequista, volta a ressoar sempre o primeiro anúncio: “Jesus Cristo
ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para
te iluminar, fortalecer e libertar”. Este anúncio é designado como “primeiro”
em sentido qualitativo, porque é o anúncio principal,
aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que
sempre se tem de voltar a anunciar, de uma forma ou de outra, durante a
catequese, em todas as suas etapas e momentos.
Toda
a formação cristã é, primeiramente, o aprofundamento do querigma. Este nunca deixa de iluminar a tarefa catequética e que
permite compreender adequadamente o sentido de qualquer tema desenvolvido na
catequese. A centralidade do querigma
requer certas características do anúncio:
·
Que
exprima o amor salvífico de Deus como prévio à obrigação moral e religiosa;
·
Que
não imponha a verdade, mas faça apelo à liberdade;
·
Que
seja pautado pela alegria, pelo estímulo, pela vitalidade e por uma
integralidade harmoniosa que não reduza a poucas doutrinas, por vezes mais
filosóficas que evangélicas.
b.
Catequese Mistagógica (Cf. EG, n.166-168)
Outra
característica da catequese é a iniciação mistagógica,
que significa essencialmente duas coisas:
·
uma
necessária progressividade da experiência formativa na qual intervém toda a
comunidade;
·
uma
renovada valorização dos sinais litúrgicos da iniciação cristã.
O
encontro catequético é um anúncio da Palavra e está centrado nela, mas precisa
sempre de uma ambientação adequada e de uma motivação atraente, do uso de
símbolos eloquentes, da sua inserção num amplo processo de crescimento e da
integração de todas as dimensões da pessoa num caminho comunitário de escuta e resposta.
6. A
importância de uma catequese querigmática e mistagógica
Como
anúncio do querigma e como iniciação mistagógica para o amadurecimento da
vivência cristã, a catequese encontra-se, por isso, no coração da missão
eclesial, tornando-se instrumento da existência da Igreja como Sacramento do
Reino de Deus.
É
incalculável o efeito benéfico da renovação da atividade catequética, desde que
ela não seja concebida dentro de uma pastoral de manutenção, mas em chave
promocional e transformadora, aberta à criação de novas experiências cristãs
nos dias atuais. Vista em sua identidade mais profunda, a catequese constitui
um momento irrenunciável, fundamental, na ação evangelizadora da Igreja.
Nossa
atividade catequética encontra-se dentro de uma experiência cristã que está
sendo chamada à conversão. É convidada a deixar-se interrogar pelas
transformações culturais que tornaram a fé e sua transmissão problemáticas e
desafiadoras. Estas transformações exigem nossa reflexão profunda e,
principalmente, uma nova forma missionária de conceber o perfil da atividade
catequética e de sua fundamental importância pastoral na ação evangelizadora
atual. Tal atitude missionária está ligada à natureza mesma da ação
catequética, que é ser como um “sacramento”, um sinal e um meio de operar a
união íntima com Deus e a unidade de todo gênero humano.
A
catequese deve ser um sinal eficaz da salvação que Deus quer ao gênero humano.
Apresenta-se não como aquela que diz que
Deus salva, mas como o sinal em atos da própria salvação de Deus.
7. Considerações
finais
Não
devemos entender a atual prática catequética como uma “ruptura” ou uma
“inovação”, mas sim como uma “renovação” do processo de transmissão da fé que
deve ser sempre vivo e dinâmico. Neste sentido de “renovação”, a catequese é ação
fundamentalmente de “conversão pastoral”. A evangelização no mundo atual
depende da capacidade de “repensar” e executar de maneira nova a atividade
catequética. Neste cenário a Iniciação à Vida Cristã descortina-se como tarefa
fundamental da atual atividade catequética.
REFERÊNCIAS
BÍBLIOGRÁFICAS
CARMO, S. M. Desafios da
catequese no cenário da pós-modernidade. Vida
Pastoral, São Paulo, ano 51, p.16-24, Maio-Junho de 2010.
COMISSÃO EPISCOPAL PASTORAL PARA
A ANIMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA. Itinerário
catequético. Brasília: Edições CNBB, 2014.
FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. Brasília: Edições CNBB, 2013.