quarta-feira, 8 de julho de 2015


CATEQUESE EVANGELIZADORA PARA OS DIAS DE HOJE

Edson De Bortoli[1]

1.      Mudança de época: principais desafios para a catequese e a evangelização hoje

Vivemos uma mudança de época.  Este período nos traz novos critérios para o julgamento da existência, fazendo com que o que antes era certeza, mostre-se insuficiente para responder a situações novas, deixando as pessoas desnorteadas. Tal mudança epocal tem impactos sobre a realidade, impondo novos desafios para a catequese.

a.      Individualismo
O eu é colocado como centro da realidade na qual se vive e como parâmetro único e absoluto de referência e de avaliação. Não se busca mais o bem comum, mas cada um pensa em atingir o próprio bem. Neste panorama é difícil individuar os parâmetros de referência. Somente tem valor as coisas ou pessoas pelas quais se tem um interesse individualmente.
O individualismo penetra até em certos ambientes religiosos, onde se busca a própria satisfação, deixando de lado o amor de Deus e o serviço ao outro. Oportunistas manipulam o Evangelho, voltando-o para benefícios particulares.
b.      Hedonismo
O prazer é colocado como critério último de todas as relações humanas. O prazer (que com certeza é um valor) deve ser alcançado sem fadigas e sem esforços, onde sua busca torna a cada pessoa a norma de si mesma.
c.       Indiferentismo
Nesta situação, nada tem importância. Verifica-se uma perda pelo “sentido da vida”.
Consequência da perda pelo sentido da vida é a “perda de Deus”. Entretanto, paralelamente ocorre um movimento de “retorno ao sagrado”. Este, por sua vez, associa-se ao fenômeno do “trânsito religioso”, onde as pessoas migram constantemente de uma experiência religiosa para outra, buscando respostas imediatas aos seus problemas. Já não é mais a pessoa que se coloca como servo atento de Deus, e sim ocorre a ilusão de que Deus possa estar a serviço das pessoas.
d.      Cultura midiática
As relações ultrapassam as distâncias de espaço e de tempo: forma-se a aldeia global.
Na situação atual, a troca de notícias e informações tem grande importância no processo de constituição da pessoa. Entretanto, seu excesso cria o perigo de perder-se a sensibilidade diante de episódios de injustiça. Também oportuniza a vivência de novas fantasias, por meio de uma realidade virtual que permite ao indivíduo viver como se estivesse imerso nesta realidade.
Assim, esfacelam-se as comunidades humanas dos moldes como eram conhecidas. A cultura midiática elimina do ser humano o espaço e o tempo, tirando dele o que este tinha por sua individualidade e identidade.

2.      Mudança de época: a necessidade de um novo paradigma catequético e evangelizador

O contexto acima citado faz com que os ensinamentos da Igreja já não encontrem tanta acolhida no interior das pessoas. A voz da Igreja não encontra resposta favorável no coração da humanidade. E a palavra de Deus que essa voz anuncia acaba não tendo lugar para se aninhar.
Diante deste novo panorama, como a catequese pode ser situada? Qual é o seu papel? Ela consegue ser evangelizadora?
A mudança de época e os novos desafios pastorais apresentados à comunidade eclesial exigem uma revisão global e corajosa de todo o agir pastoral catequético. Essa revisão invoca a relação entre catequese e o processo de evangelização. A evangelização torna-se uma realidade que qualifica e catalisa toda uma nova obra sistemática de catequese.

3.      A nova evangelização para a transmissão da fé (Cf. EG, n.14)

A nova evangelização interpela a todos, realizando-se fundamentalmente em três âmbitos:
a.       No âmbito da pastoral ordinária: contempla os que frequentam regularmente a comunidade, e os que conservam uma fé católica sincera e intensa, embora não participem frequentemente do culto. Esta pastoral está orientada para o crescimento dos crentes, a fim de corresponderem melhor e com toda a sua vida ao amor de Deus.
b.      No âmbito das pessoas batizadas que, porém, não vivem as exigências do Batismo, não sentem uma pertença cordial à Igreja e já não experimentam a consolação da fé. A Igreja esforça-se para que elas vivam uma conversão que lhes restitua a alegria da fé e o desejo de se comprometerem com o Evangelho.
c.       No âmbito da proclamação do Evangelho às pessoas que não conhecem Jesus Cristo ou que sempre O recusaram. Todos têm o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm o dever de anuncia-lo, sem excluir ninguém, e não como quem impõem uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível. A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração.

4.      Ao redor da palavra

Na variedade das expressões, podemos falar de um consenso na Igreja atual, enquanto individua a identidade da catequese em torno de três polos de referência: a Palavra de Deus, a e a Igreja. A pedagogia catequética deve estar fundamentada na Palavra de Deus que alimenta a fé e as consequentes atitudes de fé de toda a comunidade eclesial.
De acordo com o Papa Francisco, “toda a evangelização está fundada sobre esta Palavra escutada, meditada, vivida, celebrada e testemunhada. A Sagrada Escritura é fonte da evangelização. Por isso, é preciso formar-se continuamente na escuta da Palavra. A Igreja não evangeliza se não se deixa continuamente evangelizar. É indispensável que a Palavra de Deus se torne cada vez mais o coração de toda a atividade eclesial. A Palavra de Deus ouvida e celebrada, sobretudo na Eucaristia, alimenta e reforça interiormente os cristãos e torna-os capazes de um autêntico testemunho evangélico na vida diária.” (EG, n.174)
A atividade catequética é ministério da Palavra, serviço à evangelização, comunicação da mensagem cristã e anúncio da Boa Nova festiva de Cristo. Por isso nos diz o papa que: “é fundamental que a Palavra revelada fecunde radicalmente a catequese e todos os esforços para transmitir a fé. A evangelização requer a familiaridade com a Palavra de Deus, e isso exige que as dioceses, paróquias e todos os grupos católicos proponham um estudo sério e perseverante da Bíblia e promovam igualmente a sua leitura orante e comunitária. [...] Acolhamos o tesouro da Palavra revelada.” (EG, n.175)
A catequese é momento de iniciação à vida cristã e de educação da vida cristã iniciada, mediação eclesial que favorece o amadurecimento da fé nas pessoas através das comunidades eclesiais para o serviço ao mundo. Por isso a catequese é ação e momento essencial da missão da Igreja.
Sendo assim compreendida, podemos chamar de atividade catequética toda forma de serviço eclesial à Palavra de Deus dirigida ao amadurecimento pessoal da vida cristã mediante e dentro da comunidade eclesial.

5.      Uma catequese querigmática e mistagógica


A catequese é sempre uma forma de evangelização (DGC, n.59). É um momento essencial no dinamismo evangelizador. Ela é anúncio e aprofundamento da mensagem evangélica para o amadurecimento da vida cristã, encontrando-se no centro da missão eclesial como instrumento da existência da Igreja como Sacramento do Reino de Deus para a sociedade. A noção de catequese como anúncio e aprofundamento norteia duas características evidenciadas pelo Francisco: a catequese querigmática e a catequese mistagógica.

a.      Catequese Querigmática (Cf. EG, n. 164-165)
Voltamos a descobrir que também na catequese tem um papel fundamental o primeiro anúncio ou querigma, que deve ocupar o centro da atividade evangelizadora e de toda a tentativa de renovação eclesial. Na boca do catequista, volta a ressoar sempre o primeiro anúncio: “Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer e libertar”. Este anúncio é designado como “primeiro” em sentido qualitativo, porque é o anúncio principal, aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar, de uma forma ou de outra, durante a catequese, em todas as suas etapas e momentos.
Toda a formação cristã é, primeiramente, o aprofundamento do querigma. Este nunca deixa de iluminar a tarefa catequética e que permite compreender adequadamente o sentido de qualquer tema desenvolvido na catequese. A centralidade do querigma requer certas características do anúncio:
·         Que exprima o amor salvífico de Deus como prévio à obrigação moral e religiosa;
·         Que não imponha a verdade, mas faça apelo à liberdade;
·         Que seja pautado pela alegria, pelo estímulo, pela vitalidade e por uma integralidade harmoniosa que não reduza a poucas doutrinas, por vezes mais filosóficas que evangélicas.

b.      Catequese Mistagógica (Cf. EG, n.166-168)
Outra característica da catequese é a iniciação mistagógica, que significa essencialmente duas coisas:
·         uma necessária progressividade da experiência formativa na qual intervém toda a comunidade;
·         uma renovada valorização dos sinais litúrgicos da iniciação cristã.
O encontro catequético é um anúncio da Palavra e está centrado nela, mas precisa sempre de uma ambientação adequada e de uma motivação atraente, do uso de símbolos eloquentes, da sua inserção num amplo processo de crescimento e da integração de todas as dimensões da pessoa num caminho comunitário de escuta e resposta.

6.      A importância de uma catequese querigmática e mistagógica

Como anúncio do querigma e como iniciação mistagógica para o amadurecimento da vivência cristã, a catequese encontra-se, por isso, no coração da missão eclesial, tornando-se instrumento da existência da Igreja como Sacramento do Reino de Deus.
É incalculável o efeito benéfico da renovação da atividade catequética, desde que ela não seja concebida dentro de uma pastoral de manutenção, mas em chave promocional e transformadora, aberta à criação de novas experiências cristãs nos dias atuais. Vista em sua identidade mais profunda, a catequese constitui um momento irrenunciável, fundamental, na ação evangelizadora da Igreja.
Nossa atividade catequética encontra-se dentro de uma experiência cristã que está sendo chamada à conversão. É convidada a deixar-se interrogar pelas transformações culturais que tornaram a fé e sua transmissão problemáticas e desafiadoras. Estas transformações exigem nossa reflexão profunda e, principalmente, uma nova forma missionária de conceber o perfil da atividade catequética e de sua fundamental importância pastoral na ação evangelizadora atual. Tal atitude missionária está ligada à natureza mesma da ação catequética, que é ser como um “sacramento”, um sinal e um meio de operar a união íntima com Deus e a unidade de todo gênero humano.
A catequese deve ser um sinal eficaz da salvação que Deus quer ao gênero humano. Apresenta-se não como aquela que diz que Deus salva, mas como o sinal em atos da própria salvação de Deus.

7.      Considerações finais

Não devemos entender a atual prática catequética como uma “ruptura” ou uma “inovação”, mas sim como uma “renovação” do processo de transmissão da fé que deve ser sempre vivo e dinâmico. Neste sentido de “renovação”, a catequese é ação fundamentalmente de “conversão pastoral”. A evangelização no mundo atual depende da capacidade de “repensar” e executar de maneira nova a atividade catequética. Neste cenário a Iniciação à Vida Cristã descortina-se como tarefa fundamental da atual atividade catequética.


REFERÊNCIAS BÍBLIOGRÁFICAS

CARMO, S. M. Desafios da catequese no cenário da pós-modernidade. Vida Pastoral, São Paulo, ano 51, p.16-24, Maio-Junho de 2010.

COMISSÃO EPISCOPAL PASTORAL PARA A ANIMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA. Itinerário catequético. Brasília: Edições CNBB, 2014.

FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. Brasília: Edições CNBB, 2013.



[1] Bacharel em Filosofia pela Faculdade São Luiz (FSL) em Brusque. Atualmente é acadêmico do 3º semestre de Teologia pela Faculdade Católica de Santa Catarina (FACASC).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

  Celebração do dia do (a) Catequista – 2021 Semeadores (as) da Palavra, da Alegria, do Perdão e da Justiça (Mt 13,1-9) Preparando o...