quinta-feira, 23 de abril de 2015


A INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ NA HISTÓRIA DA IGREJA

Edson De Bortoli[1]

O verbo catequizar, no seu sentido original, significa “fazer ressoar aos ouvidos”. Para os primeiros cristãos, a catequese tratava-se de uma Boa Notícia que eles faziam ecoar nas casas e nas praças (At.25,19); uma proclamação daquilo que eles tinham visto e ouvido.

1.      A catequese no período apostólico (30 d.C. – 100 d.C.)

No período da pregação apostólica, podem ser encontrados dois momentos distintos:
·         Primeiro momento (de 30 d.C. até 70  d.C ): período do anúncio inicial (querigma): buscava-se despertar nos ouvintes a fé inicial em Jesus, converter e apresentar os eventos centrais de Cristo;
·         Segundo momento (de 70 d.C. até 100 d.C).:  período do aprofundamento da fé e da transformação da vida, movidos pela Palavra, em preparação para o Batismo (ensinamento, instrução , narração, catequese).

1.1  Características da catequese no período apostólico

·         a missão fundamental é a transmissão dos ensinamentos de Jesus. O Evangelho é o anúncio de um fato positivo, vivencial, alegre, vitorioso, destinado a todos (Mc 16,15)
·         o conteúdo da pregação refere-se à vida, paixão, morte e ressureição de Jesus Cristo.
·         o anúncio da fé é adaptado aos destinatários;
·         a catequese é destinada aos adultos em comunidade (Gl 1,2; 1Cor 1,2; Fm 1,2).

1.2  Enfoques da catequese no período apostólico

·         Catequese cristocêntrica (centrada na sua mensagem);
·         catequese missionária (Mt 28,19);
·         catequese litúrgica (centrada na Palavra, na reunião fraterna e na fração do pão (At 2,42-47));
·         catequese testemunhal, cujo modelo de vida era Cristo (andar de acordo com seu projeto, vida e mensagem, e não cumprir simples preceitos);
·         catequese experiencial (a fé ainda não se encontra formulada em dogmas, mas é integralmente vivida pelos fiéis e apresentada com o entusiasmo e a alegria de quem descobriu sua salvação).

2.      A catequese no período patrístico (100 d.C. – 400 d.C.): a época do catecumenato

No início, o cristianismo estava fortemente marcado pela cultura judaica. Na metade do século II uma mudança progressiva se estabelece na relação do cristianismo com o mundo greco-romano. Os cristãos tentam mostrar que o cristianismo corresponde ao ideal greco-romano. Assim, para serem cristãos, os gregos não precisam renunciar ao helenismo; ao contrário, no cristianismo encontrariam os verdadeiros valores da sua cultura. Ao mesmo tempo, houve uma absorção dos valores mútuos no campo da liturgia.
Por outro lado, o confronto com o mundo pagão também se caracterizou para o cristianismo por épocas de violentas perseguições da parte dos defensores da ideologia do Império Romano. Estas se tornaram generalizadas, de modo que a evangelização e a catequese tiveram que ser realizadas às escondidas, e a aceitação do batismo se tornou mais exigente. Isto influenciou a estruturação do catecumenato.


2.1 Origens do Catecumenato

No início do cristianismo se admitia ao Batismo todos aqueles que o pediam, mediante uma simples profissão de fé no Cristo. Porém, logo surgiram as heresias que ameaçavam seduzir as pessoas mais ignorantes. Além disso, aumentaram as perseguições, com o perigo dos mais fracos não resistirem e entregarem seus irmãos ao exército.
Tudo isso levou a comunidade cristã a pensar em fazer maiores exigências aos seus candidatos: preceder o Batismo por um período mais ou menos prolongado de instrução na doutrina e na moral cristãs, e pedir o testemunho favorável de membros da comunidade.
No século III, a Igreja determina sua doutrina em fórmulas definitivas. Também passa a fazer maiores exigências aos que se preparavam ao Batismo: o candidato precisava dar provas de sinceridade e não exercer nenhuma profissão incompatível com os compromissos; também devia ser apresentado oficialmente à Igreja por cristãos que se responsabilizassem por ele.
 
2.2  Características do catecumenato

·         Era uma catequese para adultos;
·         o candidato era apresentado à comunidade por um cristão e os seus motivos eram seriamente examinados;
·         uma vez aceito, ingressa no catecumenato por um rito religioso; um catequista encarrega-se de sua instrução religiosa e de verificar o seu comportamento; quando admitido à liturgia, pode ter um lugar especial: é ouvinte da pregação e, ao ser despedido antes da liturgia eucarística, reza-se sobre ele uma oração com imposição das mãos;
·         a primeira fase do catecumenato era concluída com um novo exame por parte da comunidade cristã, com a finalidade de constatar se o catecúmeno havia progredido com a formação, e se merecia ser eleito para receber o Batismo;
·         o testemunho do catequista era decisivo; se neste exame ele também obtivesse bom êxito, o catecúmeno era admitido a uma preparação imediata para o Batismo. Com a Igreja, vivia a quaresma em jejuns e penitências, e em instruções diárias com as liturgias pré-batismais;
·         o catecúmeno recebia o símbolo (Creio) e o Pai Nosso, sendo deles examinado oito dias depois (escrutínios);
·         recebido o Batismo, os neófitos mantinham-se de vestes brancas e completavam a sua instrução sacramental nas chamadas catequeses mistagógicas. Esta instrução ia até o segundo domingo da Páscoa, quando as vestes brancas eram depostas.
Do quarto século em diante começam a surgir os problemas na organização do catecumenato. O Batismo de crianças se torna costume. Além disso, muitos pagãos decidem abraçar o cristianismo quando este se torna religião oficial, mas sem disposição de mudar de vida e de seguir as práticas impostas. Com isso, as regras que fixam o catecumenato são relaxadas.

Referências bibliográficas

GEEURICKX, J. A catequese na comunidade cristã: pequena história da catequese. Petrópolis: Vozes,1991.

KESTERING, J.; BERTOLDI, M. Elementos da história da catequese. Florianópolis: [SI].

SANTOS, L. P. dos. Catequese ontem e hoje. Porto Alegre: EST/UCS, 1979.


[1] Bacharel em Filosofia pela Faculdade São Luiz (FSL) em Brusque. Atualmente é acadêmico do 2º ano de Teologia pela Faculdade Católica de Santa Catarina (FACASC).


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