Quaresma: História e
espiritualidade
A Quaresma é o tempo do
ano litúrgico preparatório da Páscoa, a grande celebração da salvação operada
pela morte e ressurreição de Jesus Cristo. Começa na Quarta-Feira de Cinzas e
termina na Quinta-Feira Santa, excluindo a Missa da Ceia do Senhor, que já
pertence ao Tríduo Pascal. A Quaresma surgiu no séc. IV, a seguir à paz do
imperador romano Constantino, quando multidões de pagãos quiseram entrar na
Igreja. Duas venerandas instituições a ela estão ligadas, a penitência pública
e o catecumenato, preparação para o Batismo, o primeiro dos sete sacramentos.
Daí o seu duplo caráter penitencial e batismal.
Inicialmente durava
três semanas, mas depois, em Roma, foi alargada a seis semanas (40 dias), com
início no atual I Domingo da Quaresma (na altura denominado Quadragésima die,
entenda-se 40.º dia anterior à Páscoa). O termo Quadragésima (que
deu a nossa “Quaresma”) passou depois a designar a duração dos 40 dias
evocativos do jejum de Jesus Cristo no deserto, segundo a Bíblia, a preparar-se
para a vida pública. Como, tradicionalmente, aos domingos nunca se jejuou, foi
necessário acrescentar alguns dias para se perfazerem os 40. Daí a antecipação
do início da Quaresma para a Quarta-Feira de Cinzas, que em 2015 começa a 18 de
fevereiro.
Espiritualidade
A penitência pública ao
longo da Quaresma caiu em desuso, mas ficou no espírito dos fiéis a necessidade
de se prepararem ao longo de 40 dias de penitência para as festas pascais. Por
sua vez, o catecumenato que, durante séculos, teve na Quaresma a fase de
preparação próxima para os sacramentos da iniciação cristã na Vigília Pascal,
também caiu em desuso (exceto entre as populações a quem o cristianismo era
anunciado pela primeira vez), mas foi restaurado pelo Concílio Vaticano II
(1962-1965), dado o número crescente de batismos de adultos.
Assim, a “eleição” dos
catecúmenos para a fase da “iluminação” passou a fazer-se no I Domingo da
Quaresma, entrando os “eleitos” em ambiente de retiro, marcado nas últimas
semanas pelos “escrutínios”, com as “tradições” (entregas) do Símbolo da Fé
(Credo) e da Oração Dominical (Pai-nosso), que eles acabam por fazer seus,
proclamando-os (reditio) nos últimos escrutínios.
Haja ou não catecúmenos, os fiéis de cada comunidade são convidados a
viver a Quaresma em espírito catecumenal, preparando-se para a renovação das
promessas do Batismo na Vigília Pascal. Fazem esta experiência recorrendo às
tradicionais práticas do jejum, da esmola e da oração, entendendo-as num
sentido amplo de ascese cristã (luta contra as más inclinações, seduções
mundanas e tentações, e exercício das virtudes cristãs), de caridade fraterna
(pela prática das obras de misericórdia) e de intimidade com Deus (escutando a
palavra de Deus e dando-se às várias formas de oração).
Penitência
A Quaresma é um tempo
forte de penitência. A atitude espiritual expressa por esta palavra, tantas
vezes na boca dos profetas e de Jesus Cristo, é suscitada pela consciência do
pecado.
Começa por ser arrependimento pelo mal praticado e sincera dor do
pecado; logicamente leva ao desejo de expiação e de reparação, para repor a
justiça lesada, e de reconciliação com Deus e com os irmãos ofendidos; chega
finalmente à emenda de vida e mais ainda à conversão cristã, que é muito mais
que uma conversão moral, para ser uma passagem à fé e à caridade sobrenaturais,
com tudo o que implica de mudança de mentalidade, sensibilidade e maneira de
amar.
Jejum e esmola
Entre nós são dias de jejum para os fiéis dos 18 aos 59 anos (a menos de
dispensa, por doença ou outra causa) a Quarta-Feira de Cinzas e a Sexta-Feira
Santa (convidando a liturgia a prolongar o jejum deste dia ao longo de Sábado
Santo). E são dias de abstinência de carnes, para os fiéis depois dos 14 anos
(embora seja bom que a iniciação nesta prática se faça mais cedo), as
sextas-feiras do ano (a menos que cesse a obrigação pela coincidência com festa
de preceito ou solenidade litúrgica), com possibilidade de substituição por
outras práticas de ascese, esmola (caridade) ou piedade, embora seja
aconselhado manter a prática tradicional nas sextas-feiras da Quaresma.
No que respeita à
esmola, ela deve ser proporcional às posses de cada um e significar verdadeira
renúncia, podendo revestir-se da forma de “contributo penitencial” (e, como já
entrou nos hábitos diocesanos, de “renúncia quaresmal”) com destino indicado
pelo bispo.
Liturgia
A liturgia quaresmal
proporciona o clima mais adequado a este tempo, nomeadamente pelo rito das
Cinzas logo no início, pelo uso de paramentos roxos e proibição de flores nos
altares e do toque de instrumentos musicais que não sejam para suster o canto
(com a exceção do IV Domingo, Laetare), pela supressão do Glória, do Aleluia e
do Te-Deum, por cobrias cruzes e as imagens no V Domingo, até,
respetivamente, à Adoração da Cruz em Sexta-Feira Santa e à Vigília Pascal.
Acesso em 18/02/2015. http://padreelenivaldo.blogspot.com.br/2014/03/formacao-espiritualidade-da-quaresma-ii.html
D. Manuel Falcão
In Enciclopédia Católica
Popular
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